Discussões

terça-feira, 12 de julho de 2011

O medo do livro


Já há alguns dias, após ter lido um capítulo do livro "Os jovens e a leitura" da renomada escritora e pesquisadora Michèle Petit, que trata do medo do livro, as palavras ainda ecoam dentro de mim.

Medo do livro...
Por que ter medo do livro?
Quem são as pessoas que sentem medo de um livro?

Os textos dessa pesquisadora ecoam e se descortinam ainda diante de mim.
 
Ler é, essencialmente, uma atividade solitária. Contudo, paradoxalmente, implica numa abertura por parte do leitor diante do texto; do livro. Bem, diante disso, ler consiste em deixar de lado, de certo modo, ideologias próprias, hábitos culturais construídos e fundamentados há tanto tempo para se possibilitar a oportunidade de observar algo sob o ponto de vista do escritor (que pode ser absolutamente antagônico). Este é, portanto, o momento do desequilíbrio. É quando passa-se a perceber, por meio da leitura e dessa nova abertura para o mundo, a fragilidade do cristal no qual, muitas vezes, fundamentou-se por tanto tempo uma fraca e ínfima concepção. Ler, nesse caso, desestabiliza conceitos, culturas, ideias e certezas (até então tidas como verossímeis).
Petit cita, por exemplo, uma jovem muçulmana que estava prometida em casamento, mas que após ler Descartes tomou consciência de sua condição de liberdade e cancelou tudo chegando ao ponto de se indispor com sua própria família. Há outros exemplos nos quais jovens imigrantes (na França) tinham de ler às escondidas, à luz de uma lanterna sob cobertores para que suas famílias não os descobrissem. Esses jovens afirmavam que seus pais os proibiam de ler porque "os livros ensinam coisas que não prestam... coisas erradas". Em outras palavras, coisas que desestabilizam suas culturas e ideologias.

Então retomo: Medo do livro... ou seria medo de se deparar com uma outra realidade? Outra verdade? Com a subversão do livro?


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segunda-feira, 16 de maio de 2011


"Nós pega o peixe".

Será que nós pega mesmo?

Há poucos dias um assunto tem suscitado discussões bem acaloradas no meio educacional.
O MEC aprovou a distribuição do livro de Língua Portuguesa "Por uma vida melhor" para os alunos de EJA das escolas públicas. Bem, até aí, nada de mais.

O grande X da questão é que os autores do livro defendem o uso da língua coloquial, na qual, segundo eles, é perfeitamente admissível o uso de expressões como "nós pega o peixe" e "os menino pega o peixe".

Muitos professores apoiaram a ideia afirmando que a língua é viva, sofre variações e, além disso, não se pode desconsiderar a cultura linguística dos alunos. Outros, no entanto, vieram de encontro a isso alegando que a função da escola é ensinar a norma culta da Língua Portuguesa.

Entre esse fogo cruzado, fico com a seguinte opinião: entendo que os autores talvez tivessem a melhor da intenções ao por em discussão esse assunto, ou seja, a de tentar diminuir ao máximo o preconceito linguístico. Atitude louvável. Porém, havemos de convir que muitos professores adotam o livro didático como uma verdadeira 'receita de bolo' e aplicam tudo o que ali contém, sem reflexão, crítica ou análises mais aprofundadas. Podemos cair na cilada de nossos alunos de EJA, acreditando que é permitido falar "nós pega o peixe", saiam da escola e sejam, na realidade, os próprios alvos do preconceito.

Acredito que essas discussões devem, sim, ser levantadas durantes as aulas, mas esse contúdo não deveria ser publicado em livro didático como algo absolutamente aceitável. A escola não deve se perder em seus objetivos.

Leia mais clicando aqui.


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quarta-feira, 16 de março de 2011


Qualidade na educação: um tapa na cara?
A questão da qualidade na educação, e as polêmicas que este assunto suscita, vem me preocupando há algum tempo.Todos os resultados de avaliações (nacionais e internacionais, como o PISA) apontam a triste realidade da educação brasileira: de baixa qualidade, anos luz longe do ideal e de, nem de longe, se comparar aos líderes dos rankings mundiais, como Coreia do Sul, Finlândia, Hong Kong...

Por que esta situação nos persegue? Por que ano após ano, década após década, avançamos o mínimo possível em relação aos outros países do mundo? O que difere nossa educação? Onde erramos? O que podemos fazer? Essas são apenas algumas das perguntas que nos fazemos.

Bem, sabemos que o Brasil tem proporções continentais e uma população bastante diversificada em termos culturais, resultado de nossa colonização e historicidade, mas outra questão que não podemos negligenciar é que o papel do professor é fundamental. Diante disso, há dois grandes problemas:

Primeiro: infelizmente o atual cenário da educação brasileira afasta os candidatos em potencial à carreira docente e, em contrapartida, atrai os estudantes que tiveram pior desempenho durante seu período de escolarização. Conflitante, não? E o pior é que eles estão aí... Se formarão e darão aulas para nossos filhos. Lembram-se dos professores “nota zero” de 2009? Caso não, clique
 
aqui e leia a coluna de Gilberto Dimenstein.

Segundo: os profissionais bem-intencionados e qualificados que chegam às salas de aula muitas vezes desistem por conta do baixo salário. E me pergunto: se todas as demais profissões mais bem pagas do mundo, obrigatoriamente, passaram pela educação básica, pelas mãos de um professor, por que este é tão mal remunerado? Logicamente, os bons profissionais "são caros" e não se submetem a salários ridículos que sequer suprem o essencial (quem dirá então seus cursos de aperfeiçoamento?!).
No entanto, havemos de convir que apenas bons salários não garantem a qualidade. Estaria eu entrando em contradição? Não. Apenas ponderando os diversos fatores que nos põem em posição vexatória internacionalmente.

Uma coisa é fato: aprimorar a qualidade da educação demandará investimentos públicos, melhoria nas condições de trabalho do professor e na formação de novos docentes. Além disso, o professor ainda é (e não podemos fechar os olhos diante disso nos mantendo céticos) um dos maiores responsáveis pela boa educação.

Leia mais sobre assuntos relacionados clicando nos links abaixo:
Atratividade da Carreira Docente no Brasil (Nova Escola)

Formação (Nova Escola)

Novos caminhos para a educação básica no Brasil (Jornal do Brasil)